sábado, 19 de outubro de 2013

Papel Sujo

Papel Sujo
por Repórter Russo
  
Por centenas de páginas
De desenho refinado,
Com fotografias coloridas,
Em seções aparentemente desconexas,
Condenam-se as pessoas do povo
Que nasceram pobres
E aquelas que, cansadas
De tanta injustiça,
Resolveram-se revolucionárias.

Ao mesmo tempo, outras são enaltecidas
De tipo europeu e sorriso fácil,
Com dentes reluzentes,
Impecavelmente simétricos,
Muito felizes pelo afago público,
O refastelamento e a proteção
Que os demais não merecem.

Defendem, com unhas e dentes,
Os interesses vigentes de seus anunciantes.
E, portanto, transformam em monstros
Os que clamarem por qualquer mudança.

A propriedade privada, o capital,
As estruturas dominantes
São coisas sagradas
Para os donos da imprensa,
Desde que continuem a prover
Sua infindável ganância.

Do contrário voltar-se-ão,
Com seus termos, em tese, econômicos,
Ditos a esmo, por verdadeiros dementes,
Contra os próprios patrocinadores.

Quando radiodifundido,
É um serviço público,
Diga-se de passagem.

Concessão da Lei Máxima,
Que, no artigo dois-dois-um,
Lhe dá os princípios:

"(...) I - preferência a finalidades educativas,
Artísticas, culturais e informativas;
II - promoção da cultura nacional e regional
E estímulo à produção independente
Que objetive a sua divulgação;
III - regionalização da produção cultural,
Artística e jornalística (...);
IV - respeito aos valores éticos e sociais
Da pessoa e da família."

Contudo,
Em uma novela cotidiana,
Dos abastados dramas,
Os poderosos tornam,
Nesses chumaços,
Palavras vazias, ou mesmo mentiras,
Em verdades alarmantes,
A exemplo da mutação perigosa
De cidadãos conscientes em manifestantes;
Desses, em vândalos; Então meliantes;
E, afinal, terroristas.

Sendo assim, é apenas válido
O poder do manifesto
Enquanto não afetar os direitos
Que lhes protegem,
Como a SUA liberdade de expressão,
SOMENTE,
Que, legitimada pelos milhões gastos
Em câmeras, microfones
E toneladas de gel de cabelo,
Para seus repórteres perfumados,
Tem, a seu ver e juízo,
O direito e o dever
De invadir a privacidade de todos.

O que faço, pois, assinante
Dessa escumalha de gente?!

Infelizmente, preciso de algo
Como anteparo da bosta dos meus cachorros.

Edital da PM

Edital da PM
por Russo Abismado-Triste-Inconformado 
    
No momento da pancada esquecia
O ensinamento que ao êxito o levara.
O professor, com deboche, ele agredia,
Deixando marcas de torpeza sanguinária.

Lhe dava as ordens quem também o oprimia:
Prefeito espúrio, imbecil governador.
Não era o herói, que a Justiça defendia?
Por que, agora, infundia tanta dor?  

Com prazer mórbido, a botina desferia,
Sem o diálogo que o concurso lhe testou.
E o Direito de lutar por melhorias
Com gás e bombas, ao seu alvitre, ele calou.

Assim agia, pois lhe deram carta branca,
Os dois bandidos, desprovidos de pudor,
Para espancar os que não fossem a favor
Da gatunagem do erário crua e franca.

A cada pancada, traía-se a letra
Que levara
Àquela farda
Uma besta.

A cada pancada, a letra morria,
Pela mão da cria,
Estúpida, ingrata.

A cada pancada, morria a esperança
De ver a cria,
Imbecil, aprimorada.

E o mestre sofria
A política barbárie

O desperdício da aula,

Da alma,

Da cria.

Eis que vivemos em velada ditadura,
Acobertada por tal vã democracia, 

Que a bandidagem oficial lhe inoculou.

sábado, 7 de setembro de 2013

Black Blocs

Black Blocs
Russian Punk
 

Três jovens foram presos
E eu me pergunto se não sou uma farsa,

Neste 7 de setembro
Em que acordei tarde,
Novamente pelo cansaço
Da insensatez de todos os dias,

Por não ter marchado com eles,
Combatendo a mãos nuas,
No máximo munidas de clavas
E escudos de madeira,
Justamente a mentira.

Lê-se na desleal imprensa
Sobre as provas provavelmente plantadas
Por uma polícia imoral e cínica,
Acolhidas pela justiça entregue
Ao tipo de paz do qual se beneficia,
Com as mãos lavadas de sangue
De um povo que não se dobra.

São presos políticos esses rapazes
Que propunham aos de sua comunidade
A mais sincera postura de um ser vivo:
Rebelar-se, com violência,
Contra a violência que sofre
De quem, dia a dia, o maltrata.

Mas, aí estão,

Pelo capital, taxados
De bandidos formadores de quadrilha.
 

Ou, pior, pedófilos...
Para assustar as mães católicas -
Velha tática difamadora
Dos traidores da pátria,
Que já se usava contra os comunistas.

Meu Deus! Eles incitaram a violência!!!
 

E o que fazem as propagandas?
Os estúpidos programas de TV?!
E os filmes americanos?!!!

Como li no cartaz coerente,
De um outro jovem também lúcido,
Lembremos:
"Os heróis usam máscaras"...

sábado, 31 de agosto de 2013

Liberalismo em roda gigante

Liberalismo em roda gigante
Por Russian Malthus

A confusão do cubículo se espelha
No turbilhão de pensamentos:

As contas, os médicos, as tarefas do trabalho,
Um aniversário, multas de trânsito
E os muitos processos possíveis
Clamando por reparo sobre fatos desagradáveis,

Entre desenhos abandonados,
Contos inacabados e ideias para filmes...

Papéis, papéis, papéis!
E dívidas!

Onde está o meu tempo?!
Por que é tudo tão complicado?!

Já imaginei, ingênuo,
Enquanto era criado
Por pessoas que sofriam
Desses mesmos infortúnios:

Será que, como nos filmes,
O homem mais forte e violento
É também o mais preparado?

E quem dera hoje, eu, no braço,
Pudesse quebrar todos os bancos;
Estapear os gananciosos;
Torturar os corruptos e ignorantes,
Impedindo com heroica fúria
A violência da usura econômica.

Posto que, como diria,
Do alto de sua roupa colante,
Um altivo "Capitão América",
Com os punhos cerrados
Repousando sobre a cintura:
Si vis pacem, para bellum.

Somando-se à vilania política,
À ineficácia da Justiça,
E à obstinada enganação
Da "mídia" e da "cultura de massa",
Essa violência tem um nome:
Chama-se "capitalismo".

Fosse possível a libertação,
Teria um terreno
Em que pudesse plantar umas frutas,
Flores, legumes,
Verduras, temperos,
E brincar, feliz, com meus cachorros,
Tendo domínio dos meus próprios planos.

Mas, tenho que adotar com sério propósito
A ridícula premissa do avarento 
Que tem no amanhã seu bem mais caro.
Pois - não há dúvida -, de alimento, preciso!
Bem como de um espaço digno!

Como precisam os que, por desespero,
Penduram-se, em habitações de improviso,
Nos arriscados barrancos.

Sujeitos a toda sorte de violências:
À imundície,
À poluição sonora,
Ao tráfico de drogas, ao Estado...    

Afinal, o que fariam?

É possível, com o juntar de moedas,
Construir a casa de um homem?

Por que tão poucos com tanto?
Terras a perder de vista, sem uso...

Serão eles tão competentes?

Por que tantos com tão pouco?!
Espremendo-se em metros quadrados,
Roendo as sobras dos mercados...

Serão eles tão descartáveis?!

Antes que todos meus dentes se percam,
Eu preciso ser livre!
Flutuar em alta velocidade,
No mar gelado,
Sobre ondas verdes cristalinas,
Sem me ver obrigado
A vender a alma por isso.

É preciso amar e ser amado!

Eis a principal responsabilidade,
Desde que exercida sem vícios,
Ou barreiras que não sejam
Os prazerosos desafios da harmonia.

Entretanto, assim, ao atropelo,
Vão nascendo as crianças...

Em meio à tormenta aprendem
Os valores transversos
De uma humanidade pervertida:

As mentiras, os deboches,
Os preconceitos, a estupidez,
A malandragem, o "jeitinho",
O menosprezo próprio, a dependência

E todas essas maneiras torpes
De seguir na vida,

Simplesmente porque o tempo é curto,
Os recursos vitais, escassos,

E, por isso mesmo, o ciclo recomeça

Em um triste caminho sem volta... 




sábado, 1 de junho de 2013

Gordofobia

Gordofobia

Sou de uma espécie pitoresca de palhaço
Que a sociedade elegeu ao picadeiro.
Muito pouco do que falo, ou do que faço
É recebido com respeito verdadeiro.

Das pessoas é costume o escárnio,
Já que a minha silhueta vem primeiro.
Minha dieta é motivo de debates
E dela qualquer apedeuta é conselheiro.

De pareceres desportivos estou farto.
Boas senhoras, assaz, me falam o que é certeiro...
Levante os braços! Estufe o peito! Dê uns passos!
Serás em breve belo, lépido e fagueiro!

Não sei bem quando me tornei pessoa pública.
Nunca quis, eu, ser motivo de conselho.
Mas, não há gesto defensivo que derrube
O preconceito com disfarce prazenteiro.

E os sabores que a vida nos fornece
No meu caso são uma faca de dois gumes.
Se, por um lado, me agradam os sentidos,
De outra feita, devem me encher de culpa.

São, portanto, meus direitos limitados
Pela turba que me vê como percalço.
Mal sabem eles como é duro meu pedaço.
Sentir-me errado, mesmo que me saiba inteiro.

O que é fácil para quem não se avoluma
Para o meu turno é uma vida de penúria.
Eu me restrinjo dia a dia, passo a passo.
Quem sabe alcanço o que exige-me o terceiro.

Contudo a neve, um dia, reaverá o espaço.
E os esbeltos tremerão qual bambuzeiro.
E eu vou rir como um demônio redimido
A morte fria de quem me foi traiçoeiro.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Etiqueta

Etiqueta

Das minhas dúvidas
E elucubrações,
Das minhas escolhas e paixões,
Das minhas emoções e revoltas,
Fizeram um rótulo.

Estampando nos jornais
Um modelo inexato,
Contudo disciplinador,
Da minha figura imperfeita,
Porém portadora
De algum charme e mistério.

Embora quisesse falar de verdades,
Queriam, de mim, apenas o vendável,
Que as aventuras e o limitado carisma
Consubstanciariam em estereotipado produto.

Não mais eu,
Nem mais ninguém.

Apenas um modelo

Que não poderia calçar meus sapatos

E ações isoladas
Que perderam o sentido.

Teria eu, quando criança,
Absorvido algum desses clichês
Que se adequasse aos anseios da alma
Em titubeante constituição?

Quem sou eu, então, agora?
Senão a reprodução
Do que esses que hoje me rotulam
Já previam em meu projeto
Antes mesmo de nascer.

Um produto da torpe cultura
Tão livre quanto uma máquina
Destinada ao consumo
E ajustada para não ser.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Conte comigo

Conte comigo

Morreu por ter resolvido
Enfartar num domingo,
Dispondo apenas de um celular.


Tentou ligar para o 0800,
Mas, não é permitido
A máfia inteira tem que lucrar!


Ligou para o fixo do plano
De saúde, caríssimo,
E assim começou a sangrar...


Duas horas espumando
E a vadia cantando
A ladainha para lhe enganar:


Refrão -------------------------------------------------

Conte comigo!
Conte comigo!
Para lhe ignorar!


Conte comigo!
Conte comigo!
Eu vou lhe matar!