sábado, 31 de agosto de 2013

Liberalismo em roda gigante

Liberalismo em roda gigante
Por Russian Malthus

A confusão do cubículo se espelha
No turbilhão de pensamentos:

As contas, os médicos, as tarefas do trabalho,
Um aniversário, multas de trânsito
E os muitos processos possíveis
Clamando por reparo sobre fatos desagradáveis,

Entre desenhos abandonados,
Contos inacabados e ideias para filmes...

Papéis, papéis, papéis!
E dívidas!

Onde está o meu tempo?!
Por que é tudo tão complicado?!

Já imaginei, ingênuo,
Enquanto era criado
Por pessoas que sofriam
Desses mesmos infortúnios:

Será que, como nos filmes,
O homem mais forte e violento
É também o mais preparado?

E quem dera hoje, eu, no braço,
Pudesse quebrar todos os bancos;
Estapear os gananciosos;
Torturar os corruptos e ignorantes,
Impedindo com heroica fúria
A violência da usura econômica.

Posto que, como diria,
Do alto de sua roupa colante,
Um altivo "Capitão América",
Com os punhos cerrados
Repousando sobre a cintura:
Si vis pacem, para bellum.

Somando-se à vilania política,
À ineficácia da Justiça,
E à obstinada enganação
Da "mídia" e da "cultura de massa",
Essa violência tem um nome:
Chama-se "capitalismo".

Fosse possível a libertação,
Teria um terreno
Em que pudesse plantar umas frutas,
Flores, legumes,
Verduras, temperos,
E brincar, feliz, com meus cachorros,
Tendo domínio dos meus próprios planos.

Mas, tenho que adotar com sério propósito
A ridícula premissa do avarento 
Que tem no amanhã seu bem mais caro.
Pois - não há dúvida -, de alimento, preciso!
Bem como de um espaço digno!

Como precisam os que, por desespero,
Penduram-se, em habitações de improviso,
Nos arriscados barrancos.

Sujeitos a toda sorte de violências:
À imundície,
À poluição sonora,
Ao tráfico de drogas, ao Estado...    

Afinal, o que fariam?

É possível, com o juntar de moedas,
Construir a casa de um homem?

Por que tão poucos com tanto?
Terras a perder de vista, sem uso...

Serão eles tão competentes?

Por que tantos com tão pouco?!
Espremendo-se em metros quadrados,
Roendo as sobras dos mercados...

Serão eles tão descartáveis?!

Antes que todos meus dentes se percam,
Eu preciso ser livre!
Flutuar em alta velocidade,
No mar gelado,
Sobre ondas verdes cristalinas,
Sem me ver obrigado
A vender a alma por isso.

É preciso amar e ser amado!

Eis a principal responsabilidade,
Desde que exercida sem vícios,
Ou barreiras que não sejam
Os prazerosos desafios da harmonia.

Entretanto, assim, ao atropelo,
Vão nascendo as crianças...

Em meio à tormenta aprendem
Os valores transversos
De uma humanidade pervertida:

As mentiras, os deboches,
Os preconceitos, a estupidez,
A malandragem, o "jeitinho",
O menosprezo próprio, a dependência

E todas essas maneiras torpes
De seguir na vida,

Simplesmente porque o tempo é curto,
Os recursos vitais, escassos,

E, por isso mesmo, o ciclo recomeça

Em um triste caminho sem volta...