A cidade maravilhosa
Por Russo Lúcido
A cidade maravilhosa
É feia.
Cheia de buracos, rachaduras e matinhos,
De casas e pessoas caindo aos pedaços,
Doentes e cansadas
Por falta de cuidados.
Ouso dizer -
Que me xinguem -
Vejo isto há muitos anos:
A cidade maravilhosa
É feia!
Não é favorável a seus viventes.
A propriedade é impagável.
É IMORAL!
Seu aluguel é caríssimo.
O trânsito insuportável.
Basta olhar pelos ônibus,
Que passam aos montes,
Esses horrendos produtos das máfias,
De tarifas usurárias,
Que, alquebrados, entulham
As ruas mal ordenadas.
A cidade maravilhosa
É feia.
Cheia de miséria.
Entupida de barracos.
Faltando-lhe árvores, calçadas
E serviços públicos que funcionem...
Seu mar, tão cantado,
É poluído.
Vá comer um peixe
Em qualquer quiosque
E, se não morrer de salmonela,
Morrerá numa nota!
A hipocrisia e a desgraça
Habitam suas esquinas,
Assim como os bandidos,
Os bebados e os drogados.
A sujeira é infinita.
O fedor indisfarçável.
O que dizer da maldita "pedra portuguesa"?!
Sim!
A cidade maravilhosa
É feia...
O carnaval,
Superestimado,
O futebol,
Mal jogado e vendido,
A loteria esportiva,
Nada confiável,
A afamada "carioca" típica,
Marrenta e mediana,
O "malandro" de voz chiada,
Otário,
Os bicheiros,
Os traficantes,
A cerveja quente
No sol escaldante,
A segurança,
A educação,
A saúde,
Falhas,
A televisão,
Esse espetáculo de imbecilidades,
Uma imprensa de comércio e cinismos
E as demais enganações e pilantragens
São nossas marcas registradas!
A cidade maravilhosa
É feia.
Vejamos o governo...
Não, não vejamos.
Vai dar dor de cabeça...
Basta dizer
Que os impostos,
Repasses, tarifas e demais tributos
São inócuos, pois malversados,
No seu financiar de lavagens de dinheiro,
Em licitações fraudulentas, de cartas marcadas.
Basta dizer isto.
Porque,
Infelizmente,
Isto é tudo.
A cidade maravilhosa
É feia.
Vai sediar uns jogos
E vamos ver os gringos
Ganhando um monte de medalhas,
Enquanto os nossos atletas
Sofrem para manter o ritmo
Na cidade que os esquece.
Assim, do nada,
Por conta disso,
A cidade maravilhosa,
Que tem certa natureza vistosa,
Virou um paraíso!
E cá estão milhares de negociantes
Para sugar a última gota
Da nossa pobre menina desorientada,
Virando ainda mais suas costas
Para seus filhos.
A cidade maravilhosa,
Coitadinha,
Que já é feia,
Vai ficar horrível.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
A cidade maravilhosa
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terça-feira, 6 de novembro de 2012
Ela e a onda
Ela e a onda
Por Russo Terral
Aquele instante
Continua sendo
Todo o meu leitmotiv.
Como se o próprio Deus
Houvesse dobrado,
Com as Suas mãos,
Um lençol de seda
Azul esverdeado,
Em forma perfeita
De cone espiralado,
Para abrigar-nos.
Numa cornucópia eterna
De abastança e amor!
E lá estaremos,
Aconchegados.
Em nossos prórios corpos;
Em nosso próprio cheiro;
Dentro de nosso calor!
É para tal instante
Que destino
Minha existência,
Meu espírito,
Todos os meus pedaços.
Lá estão os meus desejos
E, por sorte, hoje, ao meu lado,
Para sempre e feliz,
Espero...
Ela!
E volto!
Como outrora,
No tempo, no espaço
E na idade!
Por dentro da natureza!
Por dentro da vida!
Por dentro do amor!
Eu vôo!
Eu urro!
Eu explodo!
E ela sorri,
De olhos fechados.
As águas amansam...
O pulso decresce.
Ela quer de novo.
Eu pego fôlego
E tento ser mais.
Ainda mais eu
Do que antes...
Navegante,
Nas abóbadas fartas
De nossos harmônicos nós!
Por Russo Terral
Aquele instante
Continua sendo
Todo o meu leitmotiv.
Como se o próprio Deus
Houvesse dobrado,
Com as Suas mãos,
Um lençol de seda
Azul esverdeado,
Em forma perfeita
De cone espiralado,
Para abrigar-nos.
Numa cornucópia eterna
De abastança e amor!
E lá estaremos,
Aconchegados.
Em nossos prórios corpos;
Em nosso próprio cheiro;
Dentro de nosso calor!
É para tal instante
Que destino
Minha existência,
Meu espírito,
Todos os meus pedaços.
Lá estão os meus desejos
E, por sorte, hoje, ao meu lado,
Para sempre e feliz,
Espero...
Ela!
E volto!
Como outrora,
No tempo, no espaço
E na idade!
Por dentro da natureza!
Por dentro da vida!
Por dentro do amor!
Eu vôo!
Eu urro!
Eu explodo!
E ela sorri,
De olhos fechados.
As águas amansam...
O pulso decresce.
Ela quer de novo.
Eu pego fôlego
E tento ser mais.
Ainda mais eu
Do que antes...
Navegante,
Nas abóbadas fartas
De nossos harmônicos nós!
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sábado, 3 de novembro de 2012
O Aniversário do Supermercado
O Aniversário do Supermercado
Por Encarregado Russo
A matemática falha,
Assimilada com dificuldade
No aprendizado intermitente -
Afinal interrompido,
Pela dificuldade financeira -,
A fazia passar
Por constrangimentos como aquele.
Em seus olhos via-se esperança.
Mas, a impaciência, que rugia,
Nos olhos da moça do caixa,
Embotava, com vergonha,
A conta cuidadosa,
Feita de artigo em artigo.
Vislumbrava, em soslaios breves,
Os outros carros da fila,
Abarrotados de tanta maravilha,
Que a alegria mensal faria
Das pessoas de boa família e classe média.
Aquela gente, sim, podia!
Com a renda, segura, auferida
Nas repartições estatais, nas secretarias,
Nas empresas comerciais,
Nas faculdades,
Nas mais-valias,
O que ela não conseguia,
Talvez, por ter largado os estudos,
Para pegar no pesado, infecundo,
De um peso pelo qual se culpava,
Das faxinas que brilhavam,
Nas suas mãos calejadas.
E lembrava do filho,
Enquanto passava as compras.
Não queria, para ele,
Somente aquilo:
Um desinfetante de pinho,
Uma garrafa de água sanitária
E um sabão em barra.
Um saco de macarrão,
Do mais barato, parafuso,
Um pacote de feijão,
Uma lata de polpa de tomate,
Duas cebolas, um alface.
Milho?
Bem que eu queria...
E uma sardinha em lata.
Fecharia a conta humilde,
Do dinheiro, contado, curto,
Com a folga de alguns centavos,
Levando a bandejinha de carne:
Um acém de aspecto azulado,
Mal nutrido e mal pesado,
Com hesitação selecionado,
Entre tantas outras coisas
Que ficaram no carrinho.
_ E o resto? -
Indagaria a caixa.
_ Não vai dar, eu acho, minha filha...
Pondo alguma dignidade na dúvida,
Voltava o olhar baixo
Para o encarte especial
Da revista sobre concursos públicos.
Opa!
Esse pode!
Ele tem o ensino médio!
O pai foi-se embora,
Com o menino ainda pequeno.
E qual camisa daria o emprego
De atendente de telemarketing
Ou motoqueiro?
Um menino tão travesso.
Um menino tão inventivo.
Um menino tão bonito.
E nós dois sozinhos
Naquele barraco.
Sozinhos...
_ E a carne, minha senhora?
De súbito, ousou um sonho.
Naquela revista estava o futuro!
E o acém foi parar no cesto
Dos produtos abandonados
Pelos que deles queriam ser donos,
Até a impiedosa barreira
Do princípio da escassez.
_ Troca pela revista. -
Concluía a senhora,
Deixando a carne que vai ser moída,
Redistribuída,
Ou jogada no lixo,
Para ver a sua preservada.
Por Encarregado Russo
A matemática falha,
Assimilada com dificuldade
No aprendizado intermitente -
Afinal interrompido,
Pela dificuldade financeira -,
A fazia passar
Por constrangimentos como aquele.
Em seus olhos via-se esperança.
Mas, a impaciência, que rugia,
Nos olhos da moça do caixa,
Embotava, com vergonha,
A conta cuidadosa,
Feita de artigo em artigo.
Vislumbrava, em soslaios breves,
Os outros carros da fila,
Abarrotados de tanta maravilha,
Que a alegria mensal faria
Das pessoas de boa família e classe média.
Aquela gente, sim, podia!
Com a renda, segura, auferida
Nas repartições estatais, nas secretarias,
Nas empresas comerciais,
Nas faculdades,
Nas mais-valias,
O que ela não conseguia,
Talvez, por ter largado os estudos,
Para pegar no pesado, infecundo,
De um peso pelo qual se culpava,
Das faxinas que brilhavam,
Nas suas mãos calejadas.
E lembrava do filho,
Enquanto passava as compras.
Não queria, para ele,
Somente aquilo:
Um desinfetante de pinho,
Uma garrafa de água sanitária
E um sabão em barra.
Um saco de macarrão,
Do mais barato, parafuso,
Um pacote de feijão,
Uma lata de polpa de tomate,
Duas cebolas, um alface.
Milho?
Bem que eu queria...
E uma sardinha em lata.
Fecharia a conta humilde,
Do dinheiro, contado, curto,
Com a folga de alguns centavos,
Levando a bandejinha de carne:
Um acém de aspecto azulado,
Mal nutrido e mal pesado,
Com hesitação selecionado,
Entre tantas outras coisas
Que ficaram no carrinho.
_ E o resto? -
Indagaria a caixa.
_ Não vai dar, eu acho, minha filha...
Pondo alguma dignidade na dúvida,
Voltava o olhar baixo
Para o encarte especial
Da revista sobre concursos públicos.
Opa!
Esse pode!
Ele tem o ensino médio!
O pai foi-se embora,
Com o menino ainda pequeno.
E qual camisa daria o emprego
De atendente de telemarketing
Ou motoqueiro?
Um menino tão travesso.
Um menino tão inventivo.
Um menino tão bonito.
E nós dois sozinhos
Naquele barraco.
Sozinhos...
_ E a carne, minha senhora?
De súbito, ousou um sonho.
Naquela revista estava o futuro!
E o acém foi parar no cesto
Dos produtos abandonados
Pelos que deles queriam ser donos,
Até a impiedosa barreira
Do princípio da escassez.
_ Troca pela revista. -
Concluía a senhora,
Deixando a carne que vai ser moída,
Redistribuída,
Ou jogada no lixo,
Para ver a sua preservada.
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