Triste e impuro traço mídia

Triste e impuro traço mídia
Por Bitter Russo

Hesitação, apatia, preguiça,
Angústia, receio, frustração.
Descrença, tédio, orgulho e raiva,
Falta de imaginação.

Falta de idéias,
Falta de graça,

Falta de viço,
De disposição.

Falta de riso,
Falta de expectativa.

Eu sinto falta de uma nação.

1,2,3,30...
OITENTA canais e nada presta.

Todas as vozes representadas.

E eu, que desejava ser artista,
Não faço NADA...

Embora essa vontade que me aperta
E coça
E vem à cabeça em ciclones -
Violentos...
Extremamente poderosos -
E como tais também vai embora
Levando consigo rastros
Sem deixar ao menos um risco
Daquela bendita e efêmera euforia.

Será isso por achar tudo errado?
Por não querer esses modelos?
Será por falta de tempo?
Por que, maldição, então escrevo,
Se não tenho melhor projeto?

Talvez por ser um moralista
Que contém em sua demência
Os mais podres exemplos?

São esses, monstros terríveis,
Monstros que hoje são notícia,
Reis “mídias”, bem como se heróis fossem,
No evidente declínio de nossos dias,
Que já o foi em outros tempos:

Pederastas, pervertidos,
viciados, sociopatas...

JORNALISTAS,
ASSASSINOS,
PUBLICITÁRIOS,
PSICOPATAS!

Estadistas e políticos,
Uns irascíveis, outros corruptos,
Visando domínio econômico,
Posto que nisso se satisfazem,
Vez que muito lucrativo.

Covardes da inteligentzia e ignorantes imundos...

VÂNDALOS!

Tristemente, muitos letrados...

Que hesitam na mudança criativa
Para o que sempre foi mais saudável,
Tanto para o indivíduo,
Quanto para o grupo.

E nem isso alcançariam,
Com suas ações débeis e palavras vazias.

Infelizmente,
Sou eu, também, todos esses,
Com todos os meus pecados.

E não os purgo na tela,
Porque nem a virtude tenho,
Que pudesse ultrapassar todo o lixo -

QUERENDO MESMO A REVOLUÇÃO! -,

Ou fazer-me nele mergulhado
Ser dele um filho
Obter dele um sorriso
E as benesses desse mundo civilizado.

Ó maldito e delicioso mundo civilizado!
De comidas rápidas e jogos eletrônicos,
Internet e filmes pornográficos
E, acima de tudo, televisão!

Assim, um desnaturado,
Eu choro.

Infecundo,
Infeliz
E paralisado,

Apenas pensando
(Ao menos pensando)
No que poderia ter sido

E roendo meus tubos de tinta -

Dados por minha mãe,
Esta que, iludida,
Sempre me achou um artista -

Na muito vã esperança
De que, deles, um dia,
Saia, qual pus, um milagre,
Que me devolva a alegria de infância
Do traço despreocupado
Com qualquer ordem ou desordem,
Além da beleza que há no mundo

E do mais belo significado,

Sincero, sempre sincero.
E cheio de amor.

Saudável, puro...
Elevado.

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