Temporal
Chove.
E a viela decadente retoma
Seu cheiro característico,
Eis que a bosta brota do bueiro,
Como se quisesse vingar as árvores,
Que, inadvertidamente, foram ceifadas.
Chove.
E o asfalto novinho racha,
Fazendo verter a água fétida
Que aguardava no subsolo.
Chove.
E os acidentes proliferam,
Nas curvas centrífugas mal projetadas
Que retém o óleo dos carros.
Chove.
O trânsito pára.
O povo reclama.
Chove.
E os barracos desabam,
Construídos nas áreas de risco,
Referendadas pelos políticos,
Em troca do livre sufrágio.
Chove.
E as crianças não vão para a escola,
Com medo da lepitospirose,
Porque os ratos saíram à caça,
Fugindo dos imundos charcos.
Chove.
E a maquiagem urbanística borra,
Imagem que será retocada
Com muita propaganda e falsos benefícios.
Chove.
E, embora pagas na íntegra,
Ainda estão em projeto
As obras da tragédia passada.
Chove.
E as artérias ficam à mostra,
Da corrupção atroz desfaçada,
Sugada da infra-estrutura.
Chove.
E surgem os vendedores
De guarda-chuvas e casacos,
Enquanto os outros fogem,
Porque vendem na rua,
Pois não têm direito a outros espaços.
Chove.
O rico suspira
E vê poesia
Na gota pesada.
O pobre sofre
E asfixia,
No bafo e no mofo,
Dos trens e dos ônibus.
Chove.
A verdade vem à tona.
A cidade mostra seus cascos.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Porto Maravilha
Porto Maravilha
Ao lado do Palácio da Justiça,
Embaixo do viaduto,
Revela-se um mundo injusto,
Que, providencialmente,
Será implodido,
Oculto,
Dissipado,
De depauperados e despossuídos
Da moral,
À qual não foram talhados,
Do pensamento,
Que restou confuso,
Do alimento,
Que lhes foi negado,
Do lar,
Que jamais tiveram,
Da odiosa fuga,
Qual, nas garrafas, arderam,
Ou nos cachimbos,
Nos quais os dedos queimaram.
E tudo isso está lá.
Eles estão dormindo,
Entre as pontas de cigarro,
A urina e a fumaça,
As buzinas e o escarro,
Da Quinze à Mauá
Que já viram cair os cortiços...
Esse espaço,
Ora sujo,
Doravante loteado,
Por um Estado
De mamulengos,
Servirá aos ricos
E às empreiteiras
Para fincarem ali
Um legado pétreo
Aplaudindo,
Do palácio,
A derradeira vitória da injustiça,
Que lhes fará ainda mais abastados.
Ao lado do Palácio da Justiça,
Embaixo do viaduto,
Revela-se um mundo injusto,
Que, providencialmente,
Será implodido,
Oculto,
Dissipado,
De depauperados e despossuídos
Da moral,
À qual não foram talhados,
Do pensamento,
Que restou confuso,
Do alimento,
Que lhes foi negado,
Do lar,
Que jamais tiveram,
Da odiosa fuga,
Qual, nas garrafas, arderam,
Ou nos cachimbos,
Nos quais os dedos queimaram.
E tudo isso está lá.
Eles estão dormindo,
Entre as pontas de cigarro,
A urina e a fumaça,
As buzinas e o escarro,
Da Quinze à Mauá
Que já viram cair os cortiços...
Esse espaço,
Ora sujo,
Doravante loteado,
Por um Estado
De mamulengos,
Servirá aos ricos
E às empreiteiras
Para fincarem ali
Um legado pétreo
Aplaudindo,
Do palácio,
A derradeira vitória da injustiça,
Que lhes fará ainda mais abastados.
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