sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Números

Números
Por Macaco Insignificante

Meu número é 00715160.

Da minha mãe, tive o alimento primeiro,
Um senso agudo de Justiça,
O pitoresco aspecto eslavo
E um pendor para as artes.

Do meu pai, tive o estímulo
A lutar, nadando, pela vida,
Pois quando eu me aproximava,
Com desconcertadas braçadas,
Ele ia se afastando.

Tive avôs tão fascinantes
Quanto as avós que ainda tenho.
Com um pesquei meu primeiro bagre;
Com outro aprendi desenho.

Vovó materna me ensinou a ler;
Vovó paterna a gostar de perfume.
Uma me dava misto quente;
A outra mingau de farinha láctea.

Com meu irmão mais velho aprendi piadas.

Meu irmão do meio ensinou-me a ciência
De montar e desmontar máquinas.

E, dos dois, por rotina, eu levava
Umas boas dumas porradas.

No futebol eu já dei umas pernadas,
Mas nesse me faltou o talento,

A paciência de correr tanto tempo
Pelo inútil e feliz acaso
Do tão desejado tento.

Enveredei pela bebida e o fumo,
Seguindo o exemplo dos varões da família.

Mas, no sexo, me versei sozinho,
Em alguma casa de facilidades,
Na qual eu entrei de fininho.

Tive algumas namoradas
E, com elas, dias turbulentos.

Até que sosseguei com a morena,

Que, acima de tudo,
É uma grande amiga.

E nós temos dois cachorros,
Que adotamos em um abrigo,
Os quais, hoje, nos regem os passos
Porque os tratamos como filhos.

Mas, pouco importam esses fatos,
Ou as minhas idiossincrasias...

Meu número é 00715160.

É certo que um dia vou bater as botas,
Nessa ultra-modernidade idolatrada,
Em que nenhuma desprezível formiga
É, por outra, insubstituível.



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